terça-feira, 21 de agosto de 2012

Atirou no que viu e acertou o que não viu


O mercado brasileiro de automóveis e caminhões está em baixa e a situação poderá se agravar ainda mais. Aproximadamente seis meses atrás,o Governo Federal demonstrava preocupação com a crescente onda de importação de veículos automotores e valorização do Real frente ao Dólar, contribuindo para a redução da competitividade do produto nacional no mercado global, e equilíbrio da balança comercial.

A saída encontrada foi tentar limitar a importação de veículos. Então, sobretaxou automóveis e caminhões, entre outros, com alíquota de 30%. Naturalmente, o valor limitou o desempenho das vendas de importados, que enquanto contava com estoques antigos, conseguiu manter o bom desempenho de 2011.

Naturalmente, por trás da medida havia a louvável expectativa por parte do governo de “pressionar”para que as montadoras de veículos, especialmente as que estavam apenas se beneficiando das exportações para o Brasil, investisse em fábricas para produzir no território nacional gerando empregos e impostos.

No entanto, alguns ouros fatores previsíveis ou não, ocorreram contribuindo para a queda das vendas de veículos e desaquecimento de outros mercados. Um exemplo disso foi a desvalorização do real frente ao dólar.

Seis meses atrás, quando o governo sobretaxou os importados, se você fosse ao banco comprar dólar para viajar teria pago, como eu paguei, na casa dos 1,70. Fazendo o mesmo hoje, pagará em torno de 2,06. A defasagem está na casa dos 21%, que se somada aos 30% do aumento da alíquota do IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados, inviabiliza qualquer negócio.

Outro fator não menos importante foi a restrição ao crédito. Temendo calote do consumidor, especialmente, para financiamento de veículos, os bancos tiraram o pé do acelerador e restringiram novas concessões. Para reduzir os riscos de perdas, os agentes financeiros passaram a escolher clientes, concedendo crédito apenas aqueles que oferecem garantias reais de pagamento.

Tudo isso é incipiente e não se pode prever as consequências. Porém, caso o governo não ajuste a rota (reduzindo, por exemplo, o IPI), e as vendas não se recuperarem, as montadoras vão alegar não poder honrar as promessas de novos investimentos.A produção tende a diminuir, já que não há mercado externo capaz de absorve-la , ocorrerão demissões e, sem a concorrência dos importados,o preço dos veículos tende a subir.

O ditado é antigo, mas a situação é atual: o governo atirou no que queria e acertou o que não queria. A tendência é que a redução das vendas deverá reduzir arrecadação de impostos, provocar desaquecimentoda economia, e podendo comprometer as contas públicas.Uma vez mais, o brasileiro na condição de consumidor ou contribuinte pagará a conta.

Pense nisso e ótima semana,

Evaldo Costa
Escritor, conferencista e Diretor do Instituto das Concessionárias do Brasil

0 comentários:

Postar um comentário