Indústria automobilística:
olhar para o governo ou mercado?
Naturalmente,
do ponto de vista das teorias de marketing a “regra do jogo” é manter os olhos
abertos para as oportunidades de mercado. Neste sentido, nos ensina o guru Philip
Kotler: “marketing é um processo
social e gerencial através do qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e
desejam por meio da criação e troca de produtos e valores com outras pessoas”.
No entanto, alguns fatores recomendam atenção especial ao título deste
texto. O primeiro deles é a necessidade de controlar a poluição provocada pelo
motor de combustão interna - MCI. Governos de todas as partes terão,
inevitavelmente, que adotar medidas duras, e com enorme potencial para afetar a
espinha dorsal da indústria automobilística global, alavancada pelos poluidores
veículos movidos a combustível fóssil.
Nos Estados
Unidos, por exemplo, a Environmental Protection Agency – EPA, tem normas
rigorosas para controlar as emissões dos veículos de passageiros e caminhões,
que inclui informação ao consumidor, certificação de veículos, economia de
combustível e, sobretudo, a redução da poluição provocada pelo MCI.
Como se não
bastasse, as doenças causadas pela poluição do ar estão crescendo enormemente especialmente
nas metrópoles, e os custos que o estado está tendo que arcar devido a esse
problema, também. Pesquisa
divulgada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS), revela que a
poluição do ar provocou 3,2 milhões de mortes de pessoas no mundo em 2010. Foi
um salto de 300% em relação ao ano 2000, quando os óbitos foram de 800 mil. Considere
ainda, que há uma meta internacional para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa em 80 por cento até 2050.
Na Europa e
na China os problemas são análogos e os esforços para saná-los seguem na mesma
direção das políticas adotadas nos Estados Unidos. Além disso, há o problema
dos congestionamentos que estão causando grande transtorno a população dos
grandes centros urbanos do mundo. Aliás, o Produto Interno Bruto (PIB) global poderia
contar com algum reforço, não fosse as longas horas improdutivas que o
trabalhador, refém do caótico trânsito nas grandes cidades, contabiliza diariamente.
Um outro
fator que poderá impactar diretamente a indústria automobilística é o
fortalecimento do estado e prefeitura, comum ao primeiro mundo, mas em fase de
expansão nos países em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, a
Califórnia tem regras próprias e muito mais rigorosas, no que diz respeito a gestão
da frota de veículos, do que os demais 49 estados norte-americanos.
É sabido
que pela capacidade de gerar emprego e riqueza, a indústria automobilística
sempre consegui apoio e concessões dos governos federais. Porém, do que
adianta, por exemplo, receber incentivo para pagar menos imposto na produção,
se os estados e municípios criarem regras que limitem ou onerem excessivamente a
circulação dos carros em sua jurisdição?
Também, é
preciso considerar que a China, maior mercado de autoveículos do mundo, adota
sistema de governo semiaberto, exigindo novas formas de modelagem organizacional,
onde as empresas multinacionais precisam aliar-se a parceiros chineses para
explorar o mercado interno. E neste
contexto, os chineses costumam dizer que ao fazer negócio na República Popular,
deve-se "Olhar para o prefeito, não o mercado.”
A China tem
problemas sérios com poluição atmosférica e o governo não tem muito tempo para
agir, se quiser manter a população respirando. Neste sentido, além de leis
restritivas, já foi dado os primeiros passos de apoio a mobilidade sustentável,
com foco nos carros elétricos.
Ninguém
duvida que a indústria automobilística é forte e organizada o suficiente para
interpretar e se antecipar as tendências do setor. No entanto, terão que estar
preparadas para:
1 - Superar
novas e desafiadoras regras de governos para redução de gases poluentes;
2 –
Investir em tecnologia limpa e carros econômicos;
3 – Lidar
com estagnação ou redução de demanda - as vendas de autoveículos cresceram
enormemente nas últimas décadas a ponto de alcançar quase 80 milhões de
unidades em 2012. Havendo retração do mercado, haverá espaço para todos os
fabricantes?
4 – Crescer
com margem de lucro menores - o crescimento do volume tem sido graças ao
mercado asiático, especialmente, a China onde as margens são divididas com
sócios locais. Haverá rentabilidade suficiente para todos?
Finalmente,
a indústria automobilística sabe muito bem que além dos inúmeros instrumentos
de controle, os governos com as suas enormes frotas de veículos automotores,
são clientes que não se pode prescindir. Portanto, tentar adiar ao máximo as
ações que se alinham às tendência da mobilidade sustentável pode até ser
possível, mas resisti-la não é inteligente, concebível, razoável e
recomendável.
Ótima semana,
Evaldo
Costa
Escritor, conferencista e Diretor do Instituto das
Concessionárias do Brasil
Blog: verdesobrerodas.com.br
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