A indústria
automobilística global passará por importantes transformações nos próximos anos,
e as razões não são poucas. Os consumidores ambientalmente sintonizados, e a
cada dia mais comprometidos com a preservação do nosso planeta, exigirão carros
menos agressivos ao meio ambiente, a exemplo dos modelos híbridos e elétricos.
No entanto,
produzir veículos “verdes” e lucrativos em larga escala, não é uma tarefa tão fácil
como pode parecer a um analista menos atento. É preciso muito investimento, apoio
governamental e pode levar anos para alcançar o bottom line.
A Toyota,
por exemplo, trabalhou durante 15 anos no projeto Prius para depois de tanto
tempo contabilizar apenas 1% das vendas globais. Diante disso, há algumas
leituras: a primeira é a conclusão de que investir em carros híbridos e
elétricos não vale a pena. A segunda pode-se decidir investir somente depois
que o mercado estiver “maduro”. A Terceira pode ser esperar para ver se o
governo paga a fatura. A quarta é acreditar e investir para “construir o
futuro” e liderar, e por ai vai.
Neste
contexto, a única certeza que se tem é que não será mais possível continuar
produzindo apenas veículos movidos a combustível fóssil. Ninguém tem garantia da
melhor estratégia, mas pelos investimentos e mobilização governamentais em
várias partes do mundo, quem não tiver projetos alinhados com a
sustentabilidade, terá dificuldades para se manter, no médio prazo, competitivo.
Daí, a
preocupação de grandes montadoras de todas as partes, a exemplo da Toyota,
Nissan, Mitsubishi, Mercedes-Benz, Renault, Tesla, BYD entre outras, terem
projetos robustos em mobilidade sustentável. Os fabricantes japoneses (e agora pelo
que tudo indica os chineses, também), têm uma direção clara. Eles acreditam na
mudança do comportamento do consumidor e na necessidade de reduzir a poluição
das grandes cidades. Daí, apostam que a próxima geração de veículos serão
híbridos, plug-in, elétricos e de célula de combustível.
Um outro
ponto que provavelmente forçará a indústria automobilística a encontrar novos rumos,
é o provável aumento do número de competidores, que forçará uma natural
redistribuição do market share (já
existem 13 montadoras exclusivas de VE). A Ásia continuará dominando a produção
automobilística. Aliás, a cada dez novas fábricas inauguradas no mundo, sete
ficam naquela lado do mapa. Além disso, os chineses somente autorizam novos
entrantes se for em parcerias com empresas locais, as quais o governo tem
participação. Daí, explorar aquele mercado nos modelos que as empresas
multinacionais do setor adotam, será inexequível.
Além disso,
sorrateiramente começam a surgir novos fatores críticos para a indústria automobilística.
Por exemplo, com as cidades a cada dia mais poluídas e congestionadas, não
restará outro caminho para os governos que não seja limitar o uso de carros nas
regiões metropolitanas. Cidades com São Paulo, Los Angeles, Cidade do México,
São Francisco, Washington, Tóquio, Pequim, Xangai entre várias outras, o rodízio
de placas não resolve mais os problemas do trânsito caótico.
É fato
também que governos de várias partes estão usando a frota de veículos como
importante fonte de receita do estado. Os elevados valores dos impostos,
licenciamento, taxas, multas, além dos preços abusivos dos estacionamentos,
falta de garagens nos prédios (já que o m2 é cada dia mais caro), entre outros
fatores, vão acabar afugentando boa parte dos compradores de carros, que poderão
adotar novos sistemas para se deslocar.
Neste
contexto, surge o mercado de compartilhamento (já adotado com sucesso na Europa
e Estados Unidos). Esse modelo de negócio parece atender os interesses do
governo e dos consumidores e, pelo que tudo indica, deverá reduzir o número de
vendas e a rentabilidade dos fabricantes, já que este tipo de venda ocorre no
atacado.
Do ponto de
vista tecnológico, muitas mudanças se farão necessárias. Produzir carros
híbridos, elétricos ou qualquer outro que não sejam a combustão interna, requer
grande esforço e investimentos dos fabricantes. Os carros híbridos por exemplo,
têm muito mais componentes do que seus pares a combustão interna, tornando o
processo de produção oneroso e complexo. Além disso, a maioria das montadoras, estão
muito ocupadas tentando tornar os motores a combustão interna mais eficientes.
Finalmente,
ganhar dinheiro com vendas de carros nos mercados maduros, será uma tarefa árdua.
A Europa está em constante quede de vendas, a América do Norte em transformação
e na Ásia (especialmente a China) a competição é absurda. Para complicar, os
consumidores do primeiro mundo, já deixaram de ver o carro como símbolo de status.
Daí, restará a indústria automobilística concentrar seus esforços nos países em
desenvolvimento. O problema é que eles ainda não são suficientemente estáveis
politica e economicamente, razão pela qual enfrentam estrições de grandes apostas
dos investidores.
Pense nisso
e ótima semana,
Evaldo
Costa
Escritor, conferencista e Diretor do Instituto das
Concessionárias do Brasil
Blog: verdesobrerodas.com.br
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